19 de outubro de 2011

Arkoth, o Lorde da Guerra


"Esta noite, o lamento de suas viúvas será nosso hino de louvor".
Sikren, clérigo de Arkoth

Divindade Maior (Leal e Mal)

Deus da guerra, da força, da conquista e da vingança, Arkoth é o mais hábil e temível guerreiro do panteão. Por isso é conhecido por O Feroz, O Impiedoso, Senhor do Machado, Mestre dos Exércitos e General dos Deuses.
Para ele, se alguém deseja alguma coisa é obrigado a lutar para conquistá-la e mantê-la. O mais forte deve impor sua ordem ao mais fraco, e dessa forma imprime um sistema hierárquico aos grupos marciais que adotam sua doutrina. No entanto, tolos são tão inúteis quanto fracos, e reconhece que a preparação, a tática e a estratégia são essenciais para se obter a vitória.
Também ensina que apenas o derramamento de sangue é capaz de reparar insultos recebidos, sendo que verdadeiros inimigos devem ser sumariamente destruídos, e a guarda jamais pode ser baixada, pois períodos de paz são apenas intervalos entre as batalhas, em que é necessário treinar o corpo e amolar as lâminas. Sua arma preferida é Hankeel, um terrível machado de batalha que alguns chamam de "A Cruz de Ferro".
Filho de Ghallan e Asla, despreza a postura da mãe e respeita o poder superior de seu pai. E, por consideração a ele, tolera o irmão Albrian. Certa vez, ambos encontraram Zoos agonizando após ter sido atacado por seu outro irmão Vihan. Para que o vingassem, o Deus Fera pouco antes de deixar de existir presenteou o Principe da Justiça com suas asas e Arkoth com suas garras e presas, tornando-o ainda mais agressivo. Durante o Thoecisma, seu papel foi decisivo para que Ghallan pudesse sobrepujar as hostes de Vihan. Foi nesse período que o Lorde da Guerra descobriu o sentido de sua existência. Hoje incita os mortais ao conflito e vai até os planos inferiores para combater e escravizar diabos, para lembrar um pouco do que sentiu naquela época, enquanto aguarda os Deuses guerrearem novamente para ter um desafio à sua altura.

Símbolo: Machado de lâmina dupla

Seguidores: Guerreiros, comandantes e tiranos.

Aspectos: Guerra, disciplina, crueldade, vingança, força física.

Domínios: Força, Guerra, Ordem e Mal.

Treinamento dos Clérigos: Apenas os mais aptos recebem as bênçãos do General dos Deuses. Os acólitos passam por um longo e brutal treinamento, visando sempre subjugar e destruir o inimigo. A disciplina é fundamental, e é mantida principalmente por meios violentos, pois quando um castigo é aplicado, precisa transcender a carne para atingir e educar o espírito. Os que desistem são mortos e sua carne serve para alimentar os colegas. A cada etapa vencida o futuro sacerdote se torna mais duro e menos piedoso.
No dia da ordenação, os que suportaram todas as provações ainda são colocados para combater uns contra os outros. Apenas o último que permanecer vivo torna-se clérigo.

Missões: Qualquer lugar onde haja conflito certamente atrairá o clero. Geralmente aliam-se a um dos lados, e ajudam no treinamento dos soldados e a incitar as tropas na batalha. Também costumam caçar desertores além de subjugar pessoas em favor de governos opressores. Além disso, podem promover uma "Vingança Sagrada", uma vez que a seja invocada por alguém digno do favor de Arkoth.

Orações: O Senhor do Machado não tem paciência para ouvir longas e irritantes ladainhas. Por isso atende apenas as preces curtas e diretas. Muitas vezes, alguns fiéis se limitam a gritar seu nome, e moribundos no campo de batalha rogam para que sua morte seja vingada e que Arkoth envie sua ave Kaltága os leve para incorporar o “Grande Exército” no além. Contudo, textos consagrados e objetivos são encontrados no Sagrado Livro da Cruz de Ferro.

Templos: Os templos de Arkoth são, geralmente, prédios sólidos e fortificados. Sempre que possível, possuem pátios internos, onde podem ser travados duelos de honra e soldados podem entrar com suas montarias para receberem bênçãos antes de lutar. Outra peculiaridade são os lavatórios, construídos diante da nave principal, onde os fiéis lavam o rosto, braços e pés, purificando-se para entrar.

Rituais: Os rituais são simples assim como as orações, e geralmente envolvem algum tipo de sacrifício. Dois dos mais conhecidos são feitos antes e após o combate. No primeiro podem matar algum prisioneiro e misturar seu sangue ao vinho para bebê-lo para aumentar a ferocidade dos guerreiros. O segundo consiste em queimar espólios em grandes fogueiras como oferendas, para agradecer uma vitória, enquanto festejam e bebem até desmaiar.

Arauto e Aliados: Geralmente utiliza como arauto um gigante do fogo abissal algoz de 10° nível. Seus aliados são manticores abissais, erinyes de 12 DV e o próprio Kaltága (pássaro roca abissal).

Relíquias: Garras do Desespero.

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Depois de praticamente um ano, finalmente uma nova postagem. Agradecimentos ao Marlon por fazer o rascunho desse texto.
A descrição desta divindade está de acordo com o Capítulo 5 do Dungeons & Dragons - Livro Completo do Divino, publicado no Brasil pela Devir Livraria. Dungeons & Dragons é marca registrada da Wizards of the Coast.


24 de outubro de 2010

Albrian, o Príncipe da Justiça


"A justiça tem asas e lhe alcançará".
Dito popular de Marfa

Divindade Maior (Leal e Bom)

Também conhecido por O Valoroso, O Justo, Príncipe da Virtude, Cavaleiro Divino, Paladino Alado, Senhor da Espada, entre outras alcunhas, Albrian é o deus da justiça, da honra e da coragem. É a representação divina de todos os sentimentos mais nobres e admiráveis. E ainda assim, é um dos melhores guerreiros entre os imortais. Quando necessita travar suas batalhas ele conta com sua magnífica espada longa, chamada Eernen, que passa a fazer parte de seu ser durante o combate, tamanha perícia que possui.
Sendo filho de Ghallan e Asla, é o primeiro na linha sucessória ao trono do panteão. Isto o torna alvo de inveja e desafeto de alguns deuses, mas sua conduta e valor fazem com que seja admirado por outros, e um dos mais cultuados entre os mortais.
Para Albrian, o Mal deve ser destruído, o medo é um inimigo sempre sobrepujado, e o verdadeiro poder e perfeição afloram das virtudes. Ainda segundo ele, os seres devem seguir lei, e a lei deve servir ao Bem. A partir desses princípios foi desenvolvida toda sua doutrina, que preenche diversos tomos, estudados com afinco por aqueles que almejam esse poder. Não por acaso seus ensinamentos fundamentam os códigos de cavalaria e permeiam legislações que procuram ser nobres e justas.
O Príncipe da Justiça ganhou suas asas ao tentar ajudar Zoos, quando este foi atacado e mortalmente ferido por Vihan. Conta a lenda que, certa vez, Albrian sentiu um grande mal sobre o Ern. Então, juntamente com seu irmão Arkoth, foi procurar a origem desse distúrbio. Em pouco tempo eles encontraram o Deus Fera caído diante do Maldito, que bebia seu sangue e consumia sua essência. Ao avistar seus irmãos, Vihan fugiu, mas era tarde, pois as feridas de Zoos eram profundas e quase todo seu poder havia sido roubado. E enquanto agonizava pediu aos jovens deuses que vingassem sua extinção. Então, arrancou as próprias asas e as entregou a Albrian, ao passo que Arkoth recebeu suas presas e garras. Após Zoos doar parte de si aos filhos de Ghallan, para poderem perseguir e destruir seu algoz, sua centelha divina se apagou e ele deixou de existir. Este fato desencadeou o Theocisma.
Símbolo: Espada longa

Seguidores: Guerreiros, paladinos, cavaleiros e juízes.

Aspectos: Bem, coragem, guerra, honra, justiça, ordem.

Domínios: Bem, Guerra, Ordem, Proteção.

Treinamento dos Clérigos: Poucos são capazes de se tornarem parte do clero e seguir os altos ideais de Albrian. Os candidatos ao sacerdócio, sejam homens ou mulheres, devem ser dotados de coração puro e de um caráter incorruptível, além de possuírem muita força de vontade, juízo e intuição. O aprendizado começa na infância, sendo longo, austero e rigoroso. Os estudantes são isolados em mosteiros, onde sua índole é avaliada incessantemente. Após o término dos estudos, cada acólito é colocado sob a tutela de um clérigo, que o levará em missões pelo mundo afora e que, secretamente, irá colocá-lo diante de várias tentações, com o intuito de testar seu valor. Uma única falha e todo o treinamento terá sido em vão. Contudo, se sobrepujar todos os desafios, o aprendiz retorna ao mosteiro e é ordenado.

Missões: Os clérigos e paladinos seguidores de Albrian geralmente procuram levar a verdade ao conhecimento de todos, defender os mais fracos e injustiçados, apaziguar contendas, servir de mediadores e juízes em disputas, solucionar crimes e levar os culpados às autoridades, combater a opressão de governos despóticos, destruir as forças dos infernos e do abismo quando que se manifestam em Marfa, entre outros atos de valor.

Orações: As preces dirigidas ao Cavaleiro Divino são geralmente feitas em silêncio ou em voz baixa, muitas vezes com a intenção de pedir força e sabedoria para enfrentar os desafios físicos e morais. No entanto, diante de uma batalha ou situação de perigo os clérigos podem rezar poderosos sermões, capazes encher de coragem batalhões inteiros.

Templos: Os templos de Albrian são, geralmente, prédios sólidos e fortificados. Sempre que possível, possuem pátios internos, onde podem ser travados duelos de honra e soldados podem entrar com suas montarias para receberem bênçãos antes de lutar. Outra peculiaridade são os lavatórios, construídos diante da nave principal, onde os fiéis lavam o rosto, braços e pés, purificando-se para entrar.

Rituais: Os ritos a Albrian são muitos. Eles podem ser simples, como acender uma vela em homenagem ao deus antes de dormir para que ele, através de sonhos, conceda o discernimento necessário para se tomar uma decisão acertada no dia seguinte. Por outro lado, existem os mais elaborados, como a sagração de paladinos e cavaleiros ou a nomeação de juízes, todos reconhecidos como instrumentos legítimos da justiça.

Arauto e Aliados: Um anjo solar é o arauto de Albrian. Seus aliados são arcontes guardiões, arcontes mensageiros e anjos planetários.

Relíquias: Lâmina da Honra.

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A descrição desta divindade está de acordo com o Capítulo 5 do Dungeons & Dragons - Livro Completo do Divino, publicado no Brasil pela Devir Livraria. Dungeons & Dragons é marca registrada da Wizards of the Coast.


20 de janeiro de 2010

Dominador de Corpos



Os Dominadores de Corpos são diabos menores, criaturas incorpóreas e ainda assim vivas, originadas da personificação da energia negativa oriunda do Inferno. Aventureiros podem defrontar com eles de duas maneiras distintas, ou em sua forma imaterial de origem ou como uma criatura física e brutal, resultado da metamorfose do corpo de um mortal possuído. Mas de qualquer modo, sempre são adversários perigosos e agentes infernais eficientes em realizar missões específicas para seus mestres, ou apenas em propagar o mal sobre Marfa.
Dominadores falam os idiomas Comum e Infernal.

DOMINADOR DE CORPOS - IMATERIAL (GYRON)
Extra-Planar (Pequeno – Mal, Planar, Leal)
Dados de Vida: 2d8 (9 PV)
Iniciativa: +0
Deslocamento: Voo 9 m (perfeito) (6 quadrados)
Classe de Armadura: 16 (+1 tamanho, +2 Des, +3 deflexão), toque 16, surpresa 14
Ataque Base/Agarrar: +2/–
Ataque: Corpo a corpo: toque incorpóreo +5 (dano: 1d4 pontos de Sabedoria)
Ataque Total: Corpo a corpo: toque incorpóreo +5 (dano: 1d4 pontos de Sabedoria)
Espaço/Alcance: 1,5 m/1,5 m
Ataques Especiais: Manifestação, Possessão, Drenar Sabedoria
Qualidades Especiais: Visão no escuro 18 m, características de incorpóreo, passeio etéreo, Redução de Dano 5/bem, Resistência à Magia 15.
Testes de Resistência: Fort +3, Ref +5, Von +4
Habilidades: For –, Des 14, Con –, Int 12, Sab 12, Car 17
Perícias: Blefar +8, Esconder-se +11, Intimidar +8, Conhecimento (os planos) +6, Conhecimento (religião) +6, Ouvir +6, Procurar +6, Sentir Motivação +6, Sobrevivência +6 (+8 rastreando e +8 nos planos Material e Etéreo)
Talentos: Iniciativa Aprimorada
Ambiente: Inferno
Organização: Solitário
Nível de Desafio: 3
Tesouro: Nenhum
Tendência: Sempre Leal e Mau
Progressão: 3-6 DV (Pequeno)
Ajuste de Nível:

Uma pequena figura humanóide translúcida, desfazendo-se em vapor abaixo da cintura, materializa-se a sua frente. Seus contornos são pouco definidos com exceção do brilho incandescente e diabólico que flui de seus olhos e de sua boca macabra.

Dominadores de Corpos em sua forma original, também chamados de Gyron, são pequenos seres incorpóreos que geralmente servem a diabos mais poderosos, ou simplesmente procuram corromper completamente seres que não são maus, mas que praticaram alguma maldade. Eles são parasitas em busca de hospedeiros, que procuram consumir os espíritos dos mortais para encarnar em seus corpos. E dessa forma, passam para a segunda fase em seu ciclo de existência, transformando-se em uma nova espécie de diabo mais apto a combates, chamado de Anfyon.

Combate
Uma vez manifestado, o dominador tentará imediatamente possuir a vítima, pois sua presença no Plano Material durará por pouco tempo, já que seu poder é limitado. Caso falhe na primeira tentativa, atacará com seu toque gélido, para enfraquecer a vontade do alvo e facilitar a possessão.

Passeio Etéreo (Sob): O dominador de corpos é capaz de viajar entre os planos Infernal e Etéreo como parte de sua ação de movimento. Após a viagem planar, ele precisa permanecer no mínimo 5 rodadas no plano em que estiver antes de poder ir para o outro novamente.

Drenar Sabedoria (Sob): Qualquer oponente atingido pelo toque incorpóreo de um dominador de corpos etéreo deverá obter sucesso em um teste de resistência de Fortitude (CD 14) ou sofrerá 1d4 pontos de dano permanente de Sabedoria. A CD do teste de resistência é baseado em Carisma. O dominador recebe 5 pontos de vida temporários a cada ataque bem sucedido.

Manifestação (Sob): Os Dominadores de Corpos são nativos do Plano Infernal, mas frequentemente são encontrados vagando pelo Plano Etéreo, muitas vezes por ordem de um diabo maior. Quando algum mortal de tendência boa ou neutra comete um ato maligno ou algum tipo de ofensa aos deuses, um Dominador que esteja por perto ganha força para poder se manifestar no Plano Material. Ele surgirá em um quadrado adjacente ao pecador em questão. Essa manifestação terá uma duração de 2d10 rodadas, e nesse tempo ele tentará possuir a vítima, e caso não consiga retornará a seu plano de origem.

Possessão (Sob): Uma vez a cada 3 rodadas, um dominador é capaz de possuir a criatura que tenha lhe possibilitado a manifestação no Plano Material. Para executar a possessão o dominador deve ingressar no espaço ocupado pelo alvo. Este deslocamento não provoca ataques de oportunidade. Para resistir ao ataque o alvo deve ser bem sucedido em um teste de resistência de Vontade (CD 15). Caso fracasse o dominador já passa a controlar completamente o corpo da vítima. No entanto, o alvo ainda tem chances de se livrar do domínio do diabo, pois os dois espíritos começam a travar uma batalha pela posse definitiva do corpo. A vítima terá agora que ter sucesso em dois testes de resistência de Vontade consecutivos (CD 17), um a cada dia subsequente ao ataque, para expulsar o dominador. Se não conseguir, o possuído terá ainda uma última chance, mas desta vez serão necessários três sucessos em testes de Vontade consecutivos (CD 19). Se falhar, o espírito da vítima será consumido pelo diabo, acarretando a destruição de sua existência e impossibilitando qualquer tentativa de ressurreição no futuro. Durante uma semana após o início da possessão o dominador poderá se passar pelo alvo utilizando seu corpo, mantendo as habilidades Força, Destreza e Constituição do alvo e passa a ter a Inteligência, Sabedoria e Carisma do diabo. Seu aspecto se tornará abatido e as pessoas à volta provavelmente desconfiarão do comportamento, mas é possível descobrir a farsa pela aura de maldade agora emitida. Após esse período, a metamorfose, que vinha ocorrendo internamente, se completa. E de dentro da pele da vítima surge uma nova criatura, a encarnação do dominador de corpos.
A magia proteção contra o mal ou uma proteção similar bloqueia esse ataque.
Se o alvo portar consigo um símbolo sagrado recebe um bônus de circunstância de +3 em seus testes de resistência.
Se o espírito da vítima ainda coexistir no corpo juntamente com o dominador, é possível a realização de um exorcismo para libertá-lo da possessão.


DOMINADOR DE CORPOS - ENCARNADO (ANFYON)

Extra-Planar (Médio – Mal, Planar, Leal)
Dados de Vida: 6d8+12 (38 PV)
Iniciativa: +6
Deslocamento: 9 m (6 quadrados)
Classe de Armadura: 17 (+2 Des, +4 natural, +1 esquiva), toque 17, surpresa 14
Ataque Base/Agarrar: +5/+9
Ataque: Corpo a corpo: espada óssea +11 (dano: 1d10+4 + sangramento infernal)
Ataque Total: Corpo a corpo: espada óssea +11/+6 (dano: 1d10+4 + sangramento infernal)
Espaço/Alcance: 1,5 m/1,5 m
Ataques Especiais: Sangramento Infernal
Qualidades Especiais: Sentido Cego 18 m, Redução de Dano 5/bem ou prata, viagem planar, imunidades visuais, imunidade a veneno, resistência a fogo 10, resistência a frio 10, resistência a ácido 10 e Resistência à Magia 16.
Testes de Resistência: Fort +6, Ref +6, Von +5
Habilidades: For 19, Des 14, Con 15, Int 12, Sab 12, Car 15
Perícias: Blefar +12, Esconder-se +11, Furtividade +10, Intimidar +12, Conhecimento (os planos) +6, Conhecimento (religião) +6, Ouvir +10, Procurar +10, Sentir Motivação +10, Sobrevivência +10 (+12 rastreando e +12 nos planos Material e Etéreo)
Talentos: Iniciativa Aprimorada, Foco em Arma (espada óssea), Esquiva
Ambiente: Inferno
Organização: Solitário
Nível de Desafio: 5
Tesouro: Nenhum
Tendência: Sempre Leal e Mau
Progressão: 6-9 DV (Médio); 10-13 DV (Grande)
Ajuste de Nível:

Um forte cheiro de enxofre toma conta do ar. Ele vem de uma horrenda criatura humanóide, desprovida de pele, com todos seus músculos avantajados expostos. Ela carrega uma espécie de osso afiado, que brande como uma espada, e possui uma perna menor que a outra e mesmo assim move-se com muita agilidade. Em seu rosto não existem olhos, e de sua boca sem lábios muita saliva escorre por entre dentes eternamente a mostra, que parecem formar um sorriso satânico.



Passado o período de uma semana após ter sucesso em possuir um mortal, completa-se a metamorfose sofrida pelo dominador em seu novo corpo. Os olhos da vítima caem, em sinal da destruição de seu espírito, e a cútis se desgruda da carne e se abre sobre a coluna vertebral. Por essa abertura, a criatura despe-se da pele como se fosse uma roupa, sendo tudo que sobra do hospedeiro, pois surge um novo ser, dotado de uma grande massa muscular, olfato e audição super apurados para compensar a perda dos olhos, e exala ininterruptamente um forte odor de enxofre. Logo após adquirir sua nova forma, conhecida também por Anfyon, o dominador extrai o osso correspondente a seu fêmur de sua perna direita, que fica atrofiada, mas ainda funcional. O osso é longo, resistente e afiado como aço, e o diabo passa a utilizá-lo como uma espada. Uma vez renascido e armado, o Anfyon irá procurar realizar sua missão no Plano Material, caso tenha uma, ou simplesmente causará dor e destruição por onde passar antes de retornar ao seu plano natal, para engrossar as hostes de algum senhor infernal.

Combate
O Anfyon sempre procura entrar em combate tendo vantagem, seja ela numérica ou estratégica. Quando precisa enfrentar mais de um adversário ele procura ferir a todos pelo uma vez antes de se concentrar em um só alvo, para que o sangramento causado por sua espada óssea possa ir enfraquecendo os inimigos aos poucos. Ele dificilmente luta até a morte, preferindo fugir quando percebe que a batalha está perdida.

Sentido Cego (Ext): Um dominador de corpos é capaz de detectar a posição exata de criaturas e objetos num raio de 18 m, graças à sua audição e olfato apurados. Por outro lado, ataques sonoros ou magias sônicas (como som fantasma ou silêncio) podem se tornar mais efetivos contra ele. Odores fortes dificilmente o afetam, pois já convive com seu próprio cheiro intenso de enxofre. Contudo, se for possível anular esses dois sentidos, o diabo ficará efetivamente cego.

Imunidades Visuais: O Anfyon é imune a ataques visuais, ilusões e demais efeitos relacionados à visão.

Sangramento Infernal (Sob): O ferimento causado por um golpe da espada óssea do dominador encarnado, ocasiona um sangramento constante, que não se cura de forma natural e é resistente a magias de cura. O alvo passará a perder 3 pontos de vida adicionais por rodada. Um teste de Cura (CD 15) ou as magias curar ferimentos ou cura completa podem interromper a perda de sangue. Contudo, o personagem que lançar a magia deve obter um sucesso em um teste de conjurador (CD 15), ou ela não fará efeito. Somente nas mãos do dominador a espada óssea possui essa habilidade. A CD do teste de resistência é baseada em Constituição.

Viagem Planar (SM): O dominador de corpos encarnado é capaz de usar essa habilidade uma vez por semana e seu alvo é unicamente pessoal. Em todos os outros aspectos funciona como a magia homônima.


21 de novembro de 2009

Asla, a Senhora da Luz


"De dia, o céu tem a cor das vestes de Asla".
Dito popular de Marfa

Divindade Maior (Neutra e Boa)

Asla, a Senhora da Luz, também conhecida por Amethis em algumas regiões, recebe diversos títulos, entre eles Divina Rainha, Fonte da Benevolência, Fonte Eterna do Bem, A Protetora, Detentora do Saber, A Dama do Dia, Mãe do Sol e da Lua, entre outros. Ela é personificação divina de toda a energia positiva do universo, sendo a deusa da cura, da luz, da magia e do conhecimento. É a Rainha dos Deuses, pois se casou com Ghallan e com ele teve muitos filhos, entre os quais estão Albrian, Krisa, Arkoth e Vihan. Mas primeiro, ela havia vivido uma intensa paixão com Pyros, Deus do Fogo, da qual nasceu Helion, o Deus Sol. Mas ela não suportou por muito tempo a impetuosidade e a fúria do voraz Mestre das Chamas, e acabou deixando-o. Depois, em outra ocasião, na tentativa de extirpar o único rancor existente em seu ser e num ato de extrema boa vontade, tentou aproximar-se de seu desafeto e antagonista divino, Arfos. Houve flerte e sedução a princípio, mas a convivência só fez aumentar o repúdio que um sentia pelo outro, e se separaram o quanto antes. Contudo, desse relacionamento resultou o nascimento de Selen, a Deusa Lua. Só então, ela teve a oportunidade de descobrir no Rei dos Deuses o companheiro ideal para si, no qual encontra auxílio em suas aspirações em relação ao plano material.
Segundo Asla, o bem sempre deve ser feito, a verdade sempre dita, as feridas devem ser curadas e o mal expurgado, pois somente na ausência do sofrimento e diante da tranquilidade é que pode haver o desenvolvimento material e espiritual. Para ela toda a sabedoria deve ser usada em prol da evolução das criaturas e de suas diferentes culturas, por isso, estimula a partilha de toda forma de conhecimento, sempre inspirando novas ideias e instigando as descobertas de sábios e estudiosos, tanto místicos quanto mundanos. No entanto, condena o uso do saber para fins egoístas e ambiciosos. Às vezes, escolhe uma de suas devotas e lhe concede um dom divino de sabedoria e clarividência, tornando-a um oráculo com o objetivo de trazer respostas para aqueles que precisam.
Asla defende a liberdade e prega a paz entre os povos, contudo sabe que o conflito às vezes é inevitável, ao ponto de ter sido ela quem organizou as hostes celestiais de anjos e arcontes para lutarem ao lado de seu marido durante o Theocisma. Ela possui um bordão chamado Kenns, que é sua arma favorita.



Símbolo: Estrela de oito pontas dentro de um círculo azul.

Seguidores: Magos, paladinos, bardos, professores, estudiosos.

Aspectos: Bem, cura, luz, magia, conhecimento.

Domínios: Bem, Conhecimento, Cura, Magia, Proteção.


Treinamento dos Clérigos: O estudo, que abrange todas as áreas do conhecimento, é demasiadamente rigoroso durante o treinamento do clero de Asla, que é composto exclusivamente por mulheres castas. As garotas são preparadas para serem, ao mesmo tempo, guias espirituais, guardiãs de pessoas e conhecimento, e também professoras. As noviças chegam a ficar até seis horas por dia debruçadas sobre pergaminhos e alfarrábios, durante os sete anos de aprendizado obrigatório, sem, no entanto, deixar as orações e exercícios marciais de lado. Só após esse período elas podem optar em se especializar em algum ramo específico, como história, teologia, diplomacia, ou mesmo magia e estratégia militar.

Missões: As clérigas de Asla são comumente chamadas a montar enfermarias de campanha e cuidar de feridos durante as guerras, explorar ruínas em busca de tomos ancestrais, caçar adeptos do culto a Arfos ou libertar cativos de mercadores de escravos.

Orações: Muitas das orações a Asla durante celebrações são belos cânticos sagrados, mas a prece mais popular é a chamada “Senhora da Luz”, que diz "Oh! Senhora da Luz, Fonte Eterna do Bem, auxilia minha mão a curar as feridas, ajuda meu braço a defender o fraco, clareia meus pensamentos para resolver os problemas e fortifica minha palavra para levar a luz de sua sabedoria até as trevas da ignorância. Oh! Divina Rainha ilumina meu caminho e guia meus passos hoje, e todos os dias de minha vida”.

Templos: Os templos de Asla são geralmente construções circulares com grandes vitrais, com uma espécie de claraboia no centro do teto. Essas características em conjunto com aparatos decorativos feitos de cristal, pedras preciosas, prata e ouro, visam garantir a iluminação constante no interior prédio durante o dia. À noite, castiçais enormes e magias de luz, chama contínua e luz do dia dão conta desse aspecto. Nas construções, ainda existem áreas reservadas para uma enfermaria, uma biblioteca, uma escola e uma sala para as clérigas copistas realizarem seu trabalho de reprodução de tomos. Geralmente, o comando de um templo é dividido entre três clérigas com aptidões distintas, pois segundo Asla, assim como o conhecimento, o poder também deve ser partilhado. É comum encontrar trios de sacerdotisas com uma clériga, clériga/guerreira e clériga/maga, ou ainda clériga, clériga/barda e clériga/paladina.

Rituais: Regularmente são feitas celebrações especiais diante de uma nova descoberta prática ou mística, ou da conclusão da escrita de um novo livro.Mas o clero dá muita importância a três ritos em particular. Um deles é o da Corrente de Mãos, realizado diante de uma saída diplomática bem sucedida em relação a uma situação de guerra iminente entre dois reinos. Outro é o Festival das Estrelas, no qual, a cada ano durante uma semana, exalta-se o poder da deusa, que se faz presente mesmo durante a noite, cujo senhor é Arfos. E por fim, o rito da Comunhão com a Luz, que anualmente as sacerdotisas, junto ao clero de Ghallan, celebram a união de suas divindades.

Arauto e Aliados: Um anjo solar é o arauto de Asla. Seus aliados são um esquadrão com 8 arcontes luminares, devas astrais e anjos planetários.

Relíquias: Elmo Espiritual.

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A descrição desta divindade está de acordo com o Capítulo 5 do Dungeons & Dragons - Livro Completo do Divino, publicado no Brasil pela Devir Livraria. Dungeons & Dragons é marca registrada da Wizards of the Coast.


26 de outubro de 2009

Sir Gawain e o Cavaleiro Verde



Todos os anos em que havia paz no reino, na época de Natal, uma grande celebração enchia o castelo do Rei Arthur com música, banquetes e histórias. Os Cavaleiros da Távola Redonda contavam sobre suas aventuras no País do Norte, onde sua coragem e a virtude eram testados por estranhos. E cada conto relatado tornava-se mais impressionante do que o anterior.
– “Diga-nos, jovem Gawain” – disse um cavaleiro dando uma risada – “Qual de tuas grandes proezas irás nos contar?”
– “Bem, eu...” – Gawain gaguejou porque ele era o mais jovem e inexperiente dos cavaleiros.
– “E-eu eu deveria espantar os pássaros das copas das árvores com mi-mi-minha eloquência” – interrompeu um outro, e todos os cavaleiros e damas à mesa deram altas gargalhadas.
Essa não foi a primeira brincadeira que criaram para fazer pouco caso do jovem Gawain. Mas dessa vez uma donzela da corte chamada Caryn gritou – “Eu acho que um dia Gawain ira rivalizar com o melhor de vocês!” – Ela falou com tanta emoção que os convidados riram novamente. Mas eles foram interrompidos por uma voz tão forte quanto um trovão das repentinas tempestades de verão.
– “Perdoe-me, bom Rei” – rugiu ele.
Ao mesmo tempo, todos voltaram as cabeças em direção à entrada. Ali em pé, estava o homem com a aparência mais estranha que alguém já vira. Maior do que o mais alto dos cavaleiros, com pernas grossas como carvalhos, ele era verde da cabeça aos pés. Apenas o ornamento dourado de sua túnica e seus olhos, que produziam um vermelho como brasas, é quebravam a intensa cor de sua figura.
– “Bravos Cavaleiros da Távola Redonda” – proclamou o Cavaleiro Verde – “Eu vim propor um pequeno jogo natalino, um teste para vossa coragem. Um de vós deve desferir um golpe forte com este machado em meu pescoço. No entanto, cuidarei de minha sobrevivência, pois me deve ser permitido um golpe em resposta. E como sou eu um esportista, meu companheiro de jogo deve ter o tempo de um ano e um dia antes que eu levante a lâmina contra ele”.
O próprio Rei Arthur preparava-se para aceitar a proposta, mas Gawain sentiu seu sangue ferver. “Esta é a minha chance”, pensou ele. E dando um passo adiante, disse – “Eu farei isso!” – e gritou mais alto então – “Darei cabo do desafio!”
O riso do Cavaleiro Verde atravessou o salão como o vento da primavera galopa através das árvores. – “Boa sorte, rapaz” – disse ele, ainda rindo. O cheiro de sua respiração era algo de adocicado e podre, como grama cortada e deixada por muito tempo no canto de um celeiro. Então se ajoelhou, depois apoiou as mãos no chão e disse – “Ela é toda tua, jovem cavaleiro” – e ele apontou para a pele verde exposta de seu pescoço.
Gawain olhou de relance para Caryn. Então respirou fundo, brandiu a brilhante lâmina para o alto e com força a conduziu novamente para baixo. O machado retiniu sobre o chão de pedra e a cabeça cabeluda do Cavaleiro Verde saiu voando de seu corpo.
– “Oh, meu bom Deus” – murmurou Gawain diante da cabeça rolando pelo chão. Mas o silêncio do público rapidamente deu lugar a um arfar de surpresa. Eis que o Cavaleiro Verde estava se levantando. Então ele dirigiu-se confiante para sua cabeça, apanhou-a pelos cabelos e ergueu-a como se fosse uma lanterna.

– “E agora, jovem Gawain” – falou a cabeça – “Como nós acertamos, tu tens um ano e um dia até nosso encontro, quando será minha vez de usar a lâmina. Tu encontrarás a mim no País do Norte, onde sou conhecido como o Cavaleiro da Capela Verde. Adeus.” – E com isso ele apanhou seu machado e passou pelo arco de pedra da porta, com sua profunda gargalhada ecoando pelas paredes atrás dele.
Nos dias e meses que se seguiram, Gawain e Caryn passaram mais e mais tempo juntos. Mas antes que eles se dessem conta, o inverno estava chegando novamente. Em breve chegaria o tempo de o jovem cumprir sua promessa de encontrar-se com o Cavaleiro da Capela Verde. E ao anoitecer do dia anterior a sua partida, o casal enamorado subiu até o alto de uma torre do castelo para ver a neve caindo sobre as colinas. A luz era azulada e todo o mundo parecia estar em silêncio.
– “Eu tenho algo para ti, Gawain” – disse então Caryn. E de dentro de seu manto ela retirou uma faixa de seda, bordada com figuras intricadas. – “Ao longo de todo este ano, em segredo, eu estive tecendo isto. Leve contigo em tua jornada como uma lembrança” – E ela lhe entregou a faixa.
Tão bravamente quanto podia, Gawain disse – “Até que eu retorne, eu jamais me separarei disto, eu prometo”.
No dia seguinte, como ele havia acertado, Gawain se preparou para ir em busca da Capela Verde. Os Cavaleiros da Távola Redonda vestiram suas melhores armaduras, honraram sua coragem e desejaram-lhe boa sorte. E logo o jovem cavaleiro, montado em Gringolet, seu cavalo, deixou as fazendas do país com seus celeiros para trás. E as montanhas, com seus penhascos, elevavam-se como os dentes de um lobo, e os rios e florestas já não eram mais os de sua terra. E mesmo assim, ninguém dentre as pessoas que encontrava pelo caminho havia ouvido falar do Cavaleiro Verde.
Finalmente, quando o natal estava próximo, Gawain distinguiu a forma de um glorioso castelo elevando-se acima das brumas diante dele, sobre um alto platô. Agradecendo sua boa sorte, ele alcançou os portões do castelo e gritou – “Sou um cavaleiro da Távola Redonda do rei Arthur procurando pela Capela Verde. Vós podeis me ajudar?”
Prontamente, os imensos portões de madeira se abriram com um rangido.
– “Bem, olá cavaleiro viajante” – disse o grande homem animado que veio para cumprimentá-lo. – “Eu sou Sir Bertilak, e ficaria satisfeito em ajudar-te. Mas antes, tu deves juntar-se a mim e a minha esposa em nossa comemoração natalina. Pois nós adoramos visitantes do sul” – e ele riu amigavelmente.
E assim, Gawain tomou um banho quente e colocou vestimentas novas. No jantar, ele sentou-se no lugar de honra, entre Sir Bertilak e sua esposa. Ele nunca havia provado especiarias tão deliciosas, ou foi entretido por alguém com tanto charme como Lady Bertilak. Seu riso era limpo como música, e quando falava suas mãos moviam-se como pássaros através do céu.
Ao fim da celebração, todos no castelo haviam ido dormir, mas Gawain virava de um lado para outro na cama gigantesca do quarto de hóspedes do castelo, perguntando a si mesmo se esta seria sua última noite sobre a terra. Passado algum tempo, ele ouviu uma leve batida na porta. Ela lentamente se abriu e Lady Bertilak entrou. Seu longo cabelo estava solto, quase pela cintura, e em seus olhos havia uma luz pálida e encantadora. E Gawain pensou consigo que talvez estivesse sonhando.
– “O Cavaleiro Verde” – sussurrou a Lady, aproximando-se dele – “é o mais mortífero dos adversários, sem dúvida. Mas eu conheço uma maneira para que tu talvez sejas poupado” – e ela se aproximou, e seu cabelo brilhou como se estivesse banhado pela luz da lua – “Troque comigo essa tua faixa de seda por esta aqui” – e de sua túnica ela tirou uma fita de seda rubra – “Esta é uma fita mágica, Gawain. Ela irá proteger você do machado do Cavaleiro Verde, e conservará sua vida”.
As dobras escuras da faixa pareciam esticar e enrolar-se diante de Gawain, como um caminho através de uma enorme floresta. Mas aos olhos de usa mente Caryn apareceu e a nobreza de seu coração elevou-se.
– “Não” – ele disse – “sua oferta é generosa, mas se eu a aceitar certamente de nada valerá minha vida. E seja como for, estarei com a faixa que agora tenho amarrada em minha cintura. Eu manterei minha promessa”.
–“Que assim seja” – disse Lady Bertilak – “Boa sorte, jovem Gawain” – então caminhou em direção à porta. Para o cavaleiro cansado, pareceu que ela havia desaparecido nos raios do amanhecer. E uma luz cinza arrastou-se pelo chão do quarto, já era dia.
E então, Gawain logo se encontrava cavalgando para o vale que abrigava o Cavaleiro Verde e sua capela. Um ruído agudo de amolação soou pelo ar, e faíscas saltavam como uma chuva vermelha através da límpida manhã. O Cavaleiro Verde afiava seu machado.
– “Bem vindo, rapaz!” – berrou o cavaleiro para Gawain. Seu riso ecoava pelo vale estreito. Com tanta coragem quanto ele pode demonstrar, o jovem ajoelhou-se para receber o tenebroso golpe do cavaleiro. Ele pensava em Caryn e em todas as figuras bordadas sobre a faixa quando o machado desceu com violência.
Gawain aguardou por um momento e então por outro mais. Ele sentiu um fio de sangue quente escorrer pelo seu pescoço. Mas sua cabeça ainda estava sobre seus ombros. A lâmina cortara tão somente sua pele. Ele levantou e corajosamente puxo sua espada longa. Mas o Cavaleiro Verde apenas sorriu para ele.
– “Agora não estragues nosso bom esporte essa tua espada, Sir Gawain” – disse o Cavaleiro Verde, e então ele lhe estendeu a mão. Surpreso, Gawain guardou sua espada de volta na bainha e, como era o velho costume, apertou o pulso do Cavaleiro Verde.
– “Considera-te um verdadeiro campeão em nossa pequena disputa!” – continuou o Cavaleiro Verde – “Tu provaste teu desejo pela nobreza dos cavaleiros quando aceitaste nosso desafio, e tua honestidade e coragem quando cumpriste tua palavra e compareceste ao nosso encontro. E, o mais importante de tudo...”
Então, ouviu-se uma voz de dentro das profundezas da Capela Verde. – “O mais importante de tudo” – disse Lady Bertilak, que estava saindo nesse instante, para se juntar ao Cavaleiro Verde – “tu foste fiel aos mistérios de teu próprio coração”
Então o Cavaleiro Verde soltou uma sonora gargalhada. E seu cabelo enrolado tornou-se vermelho como um pôr-do-sol. Um momento depois, ali diante dos olhos arregalados de Gawain, estava Sir Bertilak. – “Tu agora tens uma verdadeira história para contar na Távola Redonda, não é rapaz?” – ele disse e gargalhou novamente – “E essa marca em seu pescoço, considere-a como uma pequena lembrança do pai do Norte”.
– “Adeus então” – disse Gawain cordialmente. Ele montou seu cavalo e acenou se despedindo naquela clara manhã de inverno. Deu meia volta e esporeou Gringolet para fora do vale, deixando-o para trás, indo em direção ao seu lar, ao Rei Arthur e a Caryn.

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Esta é mais uma tradução livre que faço de um antigo conto, cujo texto original não encontrei novamente na web para colocar um link aqui. Esse texto é na verdade uma versão compacta de um romance aliterante do século XIV escrito em Inglês Médio. Segundo a Wikipedia, “Sir Gawain and the Green Knight” sobreviveu em um único manuscrito, o Cotton Nero A.x., e é um poema importante no gênero romântico, que tipicamente envolve um herói que parte em uma jornada que testa suas habilidades. A ambigüidade do final leva a uma complexidade ainda maior.
Além de seu complexo enredo e rica linguagem, o uso sofisticado do simbolismo medieval é o principal interesse da crítica literária. A história continua popular até hoje, graças às traduções de renomados escritores, sendo que um deles foi J. R. R. Tolkien.
O diretor inglês Stephen Weeks fez dois filmes baseados nesse poema: "Gawain and the Green Knight" de 1973 e "Sword of Valiant: The Legend of Sir Gawain and the Green Knight" de 1984.



29 de setembro de 2009

Ghallan, o Rei dos Deuses



"Eu quase vi Ghallan."
Nohrak, bárbaro albino após ser ressucitado


Divindade Maior (Leal e Neutro)

Ghallan, o Rei dos Deuses e criador da raça humana, é Leal e Neutro. Ele também é chamado de Soberano Divino, Altíssimo Rei, Senhor da Coroa, O Piedoso, ou simplesmente de O Pai pelos humanos. É o deus dos líderes, das conquistas, da estabilidade e do equilíbrio. Apesar de possuir uma tendência neutra, ele é casado com Asla, a Senhora da Luz e Fonte da Benevolência, e acaba preferindo aqueles que são bons, a despeito dos maus, uma vez que estes, na grande maioria das vezes, transgridem seus mandamentos sagrados. E aqueles que os violam devem ser exemplarmente punidos, pois são justamente as leis, juntamente com a família e o líder, os pilares da sociedade em acordo com a religião Ghallânica. Ele também prega a harmonia e a convivência pacífica entre os homens e os demais seres inteligentes, mas não descarta o uso de força para atingir esse objetivo. No entanto, acredita que os seres vivos merecem uma segunda chance, para poderem reparar seus erros passados, então, o derramamento de sangue não o agrada. Por isso, sua arma favorita é sua maça Magtull, mas, mesmo assim, possui uma poderosa espada chamada Edell, que desembainha apenas para distribuir bênçãos ou em situações de extrema gravidade.
Ghallan conquistou sua posição entre seus pares demonstrando extrema capacidade de organização, estratégia e liderança durante o Theocisma, a grande guerra dos Imortais, na qual venceu as hostes comandadas por seu filho Vihan, e que culminou na destruição do Ern e na partida dos Deuses do plano material.

Símbolo: Coroa Estrela.

Seguidores: Reis, humanos, guerreiros, paladinos.

Aspectos: Humanos, cura, nobreza, civilização, supremacia, guerra.

Domínios: Glória, Cura, Nobreza, Proteção, Destruição, Guerra.



Treinamento dos Clérigos: Somente homens podem se tornar sacerdotes de Ghallan, e o aprendizado inicia-se já na infância. Os garotos são enviados aos templos ou mosteiros para receber os ensinamentos, e durante toda sua vida são obrigados a se exercitar física e espiritualmente e a obecer uma rígida hierarquia. Eles aprendem a operar milagres em nome do Altíssimo Rei através de uma rigorosa rotina de meditação, castidade, jejum e oração. Mesmo assim, nem todos que passam pelo treinamento chegam a ser ordenados. No entanto, existem aqueles que são dotados de uma fé extraordinária, e que podem se tornar clérigos com pouco tempo de preparação.

Missões: As funções dos clérigos concentram-se basicamente em manter a harmonia e o bem-estar das comunidades onde atuam e na manutenção do poder dos governantes aos quais servem. Prestar auxílio a lugares atingidos por doenças, investigar rumores sobre a aparição de mortos-vivos, depor o barão usurpador do trono em favor do príncipe legítimo, caçar e destruir demônios que se atrevem a vagar pela superfície de Marfa, são alguns exemplos de missões realizadas para a glória de Ghallan.

Orações: Os clérigos buscam se fazerem ouvidos pelo Pai através da repetição de longas litanias antigas e cânticos sagrados. No entanto, quando estão em campanha, os sacerdotes optam pelo uso da palavra sagrada "Bennsoe", como componente verbal para canalizar os favores divinos, agilizando o processo.

Templos: Os templos dedicados a Ghallan vão desde uma simples capela no campo até majestosas construções fortificadas em grandes cidades. Nesses lugares, fiéis podem encontrar cura para suas feridas, descanso para o corpo e alento para a alma.



Rituais: Os ritos de Ghallan são diversos, e tem os mais variados objetivos dentro de uma sociedade civilizada. O mais corriqueiro seria a benção da água e o mais elaborado trata-se da coroação de um monarca. Um rito importante, celebrado anualmente, é a Comunhão com a Luz, que é realizado para comemorar a união entre Ghallan e Asla.

Arauto e Aliados: Um anjo solar é o arauto de Ghallan. Seus aliados são arcontes guardiões, arcontes mensageiros e anjos planetários.

Relíquias: Coroa dos Bravos, Égide dos Reis.


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A descrição desta divindade está de acordo com o Capítulo 5 do Dungeons & Dragons - Livro Completo do Divino, publicado no Brasil pela Devir Livraria. Dungeons & Dragons é marca registrada da Wizards of the Coast.



9 de julho de 2009

A Espada na Pedra


He’s the one who took the sword
Out of the stone

It’s how the ancient tale began

Blind Guardian, A Past And Future Secret

A cada dia, a saúde do Rei tornava-se mais debilitada, e o anjo da morte rondava seu leito.
E como a cerveja preta que transborda de uma caneca e se espalha pela mesa, a notícia correu ligeira pelo castelo, e do castelo por todo país. Em toda esquina, mulheres tagarelavam sobre os rumores, e os homens ficavam perturbados e falavam a respeito com pesar.
Era verdade que o Rei Uther já estava sofrendo há muitos e cansativos meses daquela doença fatal, e portando, o agravamento de sua moléstia não surpreendeu ninguém. Mas, eram as estranhas deformações que seu mal lhe acarretou é que realmente despertavam espanto e consternação. Pois, era notório que o Rei fora imprudente.
Há poucos dias, suportando as dores, e curvado como um leão ferido, ele esteve no campo de batalha, e sua presença pode inspirar a coragem em seus homens. Havia conquistado a vitória, vitória pela qual o valente monarca teve que pagar muito caro. E agora, ele repousava, encarando a morte, incapaz de dizer uma palavra.
Por isso, nos cantos obscuros do castelo, cavaleiros conversavam entre si. – “Certamente, grande é o mal que recaiu sobre o Rei e sobre o reino”. – murmurou um deles, em tom de protesto – “Desde que se soube que nosso monarca morreria, e em breve ele deve morrer, pois é o destino de todos os homens, pouco temido pelos valentes, devia-se ter tomado providências no sentido de indicar um nome à sucessão”.
– “Com tantos barões ansiosos por arrebatar para si a coroa de nosso belo reino, teria sido algo muito bom se o rei tivesse deixado um filho para sucedê-lo” – disse outro.
– “Sim, mas como ele não deixou nenhum,” – replicou o primeiro – “teria sido bom se a Divina Providência não lhe tivesse negado o uso língua para escolher alguém.”
Assim, continuaram discutindo entre si, até que subitamente passos fizeram-nos voltar os olhares, e o que viram fez com que ficassem imediatamente em silêncio. No entanto, o dono daquelas passadas não nenhum nobre poderoso. Quem cruzara o átrio era Merlin, o mago, vestindo seu manto escuro e usando o capuz, que mantinha seu rosto oculto em sombras. O silêncio permaneceu até o mago sair dali.
– “Merlin está indo aos aposentos do Rei” – observou um dos homens, seguindo com seus olhos a figura sombria.
– “Este deve ser um dia triste para Merlin, pois ele era um bom amigo do Rei Uther” – disse outro – “ouvi dizer que seus encantos teriam auxiliado muito o rei em relação a seu casamento.”
– “Mas, agora ele pouco pode fazer para ajudá-lo” – murmurou um terceiro – “a morte é mais forte do que as artes de Merlin, e seus cadavéricos dedos já estão sobre o Rei.”
Nesse momento surgiu outro desocupado, e se aproximou do grupo com um olhar radiante e um sorriso de desdém nos lábios, como se soubesse de algo importante, que compartilharia com eles para iluminar-lhes a ignorância, a fim de enaltecer a si próprio.
– “Vós vistes Merlin passar?” – perguntou ele, com o queixo levantado e um ar arrogante.
– “Sim, nós o vimos” – foi a resposta – “e quão soturno era seu passo. Ele foi visitar o Rei, que bem pode expirar derradeiramente antes que o mago o encontre.”
– “Que os Santos não permitam!” – exclamou o recém chegado – “Isso seria algo ruim para Merlin. Pois, não prometera ele, para o dia de hoje, na presença da Rainha e dos Nobres que, com seus místicos artifícios, e com o auxílio dos Céus, faria com que o Rei falasse?”
Diante daquela notícia, todos ali ficaram boquiabertos e de olhos fixos na figura daquele que a trouxera, ao passo que se aproximavam ainda mais dele. O fuxiqueiro, saboreando o efeito que tinha produzido, prosseguiu com sua conversa, derramando detalhes como quem vira um cálice. E, como se fosse um vinho fino, os ouvintes beberam de sua história.
Enquanto isso, Merlin havia alcançado os aposentos do Rei.
As portas fecharam-se atrás dele, e retirou o capuz da cabeça, avaliando a Aristocracia reunida e a Rainha em prantos.
– “O Rei ainda vive?” – Inquiriu ele duramente.
– “Ele ainda vive, mas é tudo” – respondeu uma voz, num lamento.
– “E não vos falou?”
– “Ele não nos disse uma palavra” – murmurou um Nobre – “Lembre-te, Merlin, tua promessa, dada ontem a nós: ‘Reuni-vos, pois, ao Rei em sua câmara, amanhã a esta hora, que pela graça de Deus, e com o auxílio de meus encantos, o Rei Uther dará o nome de seu sucessor ao trono.’ ”
– “É verdade o que recordas.” – disse o mago indiferentemente – “Essas foram realmente as palavras que proferi.”
Então, ele se aproximou da cama do Rei, e nuvens acumularam-se em seus olhos como as que se juntam no céu antes da chuva.
– “Esta é a vontade de todos,” – disse voltando-se aos demais – “que eu faça o Rei falar, perturbando assim, seu espírito adormecido? Para que vos revele o nome de seu sucessor?”
– “É nossa vontade.” – disseram os Lordes; e a Rainha também respondeu – “Essa é a nossa vontade.”
Merlin fechou seus olhos por um momento, então, voltou-se para a cama, – “Majestade” – disse ao Rei – “conte-nos sua vontade em relação ao bem estar de seu reino. É de seu desejo que seu filho Arthur o suceda, tornando-se regente supremo desta terra.”
Essas palavras mal foram ditas quando o Rei respondeu, em sua própria voz, e sem pausas – “É meu anseio e desejo sincero que meu filho Arthur use minha coroa. Eu ordeno-lhe, portanto, que a reclame, quando for chegada a hora, e que seu espírito seja correto e justo, e que tenha ciência que governar estes domínios é seu dever e sua responsabilidade. Se ele não o fizer, que perca, então, as bençãos que lhe concedo agora.”
O Rei havia proferido duramente essas palavras, quando, com um suspiro, sua respiração cessou e ele morreu.
Então, os Nobres, tomados pelo desespero e pela raiva, começaram a acusar Merlin entre eles, chamando-o de impostor, entre outras alcunhas semelhantes. – “Isso Foi um truque de Merlin,” – diziam – “ele deve ter manipulado as palavras na boca do Rei; além disso, ele bem sabe que o Rei Uther não tem filho algum. Seria melhor se ele tivesse feito o Rei indicar o nome de um de nós para sucedê-lo, assim teria sido muito mais simples, e nenhuma desordem se abateria sobre o reino.”
Sussurrando assim, entre si, eles lançavam olhares coléricos para o Mago. Mas, ele ocultou sua face, virou-se e, sem palavra alguma, foi embora.
Dessa forma, morreu o Rei Uther, tendo nomeado como sucessor um filho, de quem os Nobres nada sabiam; e por muitos anos, o reino justo que ele havia governado, foi dilacerado por conflitos, por batalhas e por disputas acirradas. Pois, havia muitos Lordes que almejavam a coroa para si, e que se lançariam à fúria da batalha com maior fervor do que profeririam uma oração.
Assim, os Nobres se esforçavam, discutiam e guerreavam, enquanto os anos passavam, e a glória do reino esmaecia. Mas, amanheceu um dia, quando os Lordes estavam cansados de si mesmos, de suas reivindicações, e do caos em que o país se encontrava, que não mais relutaram que dentre eles um deveria ser escolhido para ser o Rei.
Então, Merlin foi visto novamente, caminhando por entre o povo, envolto em seu manto sombrio. Era sabido que ele havia pedido uma audiência com Arcebispo de Canterbury. E quando estava diante dele, Merlin disse:
– “Não é algo terrível, que o nobre reino da Inglaterra deva ser dilacerado pelas intenções de homens ambiciosos? Pois, é chegado o dia, em que tu tens a oportunidade de restaurar e partilhar de uma porção da antiga glória. Eu rogo a ti que reúnas os Lordes deste reino e os Senhores de armas, para que eles peçam em oração a Deus, para que Ele nos dê um sinal que possa revelar o governante de direito de nosso reino.”
O Arcebispo ponderou essas palavras e, quando havia examinado bem o conselho de Merlin, concluiu que era uma boa idéia e digna de um povo cristão. Portanto, ele respondeu – “Eu os reunirei.”
Merlin olhou para o chão, ocultando seus pensamentos. No momento seguinte, disse ele – “Reúna-os na época do Natal, pois se nesses dias Deus nos presenteou generosamente com Seu Filho, talvez Seu coração esteja inclinado a nos dar outras dádivas.” – E, após dizer isto, ele partiu. Onde ele foi eu não sei, mas por muitos dias os homens não viram sinal de Merlin, o mago.
O Arcebispo, então, reuniu todos os Nobres e Senhores da guerra, mas ninguém sabia que esta iniciativa não partira do próprio sacerdote. Eles chegaram a Londres, em resposta a seu chamado, e muitos Cavaleiros haviam jejuado primeiro, e outros, por sua vez, flagelavam a si mesmos, para que suas preces fossem melhor ouvidas nos Céus.
No dia de Natal, eles reuniram-se todos, inclusive com a plebe, em harmonia, quer na catedral de São Paulo, ou alguma outra grande igreja; e todos os homens rezaram com tamanha seriedade que o sinal que tanto ansiavam certamente lhes seria revelado.
Um dos Cavaleiros que estava lá, enquanto orava, sentiu diante de seus olhos fechados um lampejo repentino, como se fosse um tipo de luz muito forte. Se ele havia rezado mais fervorosamente que seus companheiros, para que um grande evento lhe fosse revelado primeiro, nós não sabemos, pois julgar este tipo de coisa está além do discernimento humano. Mas, é sabido que, ao descobrir seus olhos e olhar adiante, este cavaleiro viu através da porta aberta da igreja, alguma coisa que brilhava com imensa intensidade, que o lembrou da luz que ele tinha visto. Ao observar aquilo durante algum tempo, pode perceber que se tratava de uma grande pedra branca, e que cravada nela estava uma espada dourada.
Quando o jovem ficou certo do que realmente estava vendo, foi acometido por tremores, pois percebera que não se tratavam de coisas terrenas. Então ele sussurrou para aquele que estava a seu lado sobre o estranho acontecimento, e este para o outro, que também contou para quem estivesse sentado por perto, e assim por diante até que o ocorrido alcançou os ouvidos do Arcebispo onde se encontrava.
Mas, ele, enaltecendo primeiro a glória de Deus, avisou que as preces deveriam terminar antes de se averiguar qualquer coisa.
Depois, quando a cerimônia havia acabado, todas as pessoas saíram da igreja, ansiosos para presenciar o milagre, e encontraram tudo conforme o jovem cavaleiro havia descrito.
A pedra branca estava no adro, e a espada dourada cravava nela. E sobre a espada estavam gravadas palavras que luziam como chamas. O Arcebispo as leu, apoiando as mãos sobre os joelhos.
– “Aquele que retirar esta espada da pedra, será o que legitimamente nasceu para ser Rei da Inglaterra.”
Diante de tais palavras, os Lordes e Senhores olharam uns para os outros, e as pessoas abriram seus lábios e observavam o Arcebispo. No entanto, ele manteve a cabeça abaixada por alguns minutos, como se ouvisse alguma voz proferindo palavras que e os outros não escutavam, então disse – “O sinal está dado, estais vós dispostos a acatá-lo?”
E eles responderam a uma só voz: – “Nós o aceitamos.”
Então, disse o Arcebispo – “Deus nos enviou este sinal, assim, em doze dias deverá ser dado a qualquer homem testar sua capacidade para remover a espada. Até esse dia, todos devem ser pacientes, e até lá alguns cavaleiros, famosos pela nobreza e virtude de seus atos, deverão guardar pedra.”
Tendo ditado como iriam proceder, o Arcebispo seguiu seu caminho, com o coração alegre em seu peito. Ele ainda contava que no Ano Novo deveria haver justas e um torneio, entre outras festividades, que manteriam os Nobres e a plebe juntos até que o novo rei lhes fosse revelado.
No primeiro dia do ano, as estradas estavam cheias e movimentadas com a alegria de Lordes e aldeões a caminho dos festivais. Os Lordes mostrariam sua bravura e habilidade nos torneios, e a plebe iria assisti-los e desfrutar o feriado. Com a multidão, cavalgava Sir Ector, um nobre cavaleiro que bem amara o Rei Uther, e em sua companhia seu filho Sir Kay, que fora sagrado cavaleiro no último Dia de Finados, e o jovem Arthur, seu filho adotivo, que não passava de um rapazinho.
Arthur cavalgava um ou dois passos atrás, mas o fazia por sua própria conta. Seu olhar estava tomado pelos encantos da estrada, e em seu coração palpitava a felicidade ao admirar as maravilhas do mundo. Ele estava tomado por estas emoções, que não percebeu a agitação de seu irmão, cujo rosto tornara-se repentinamente vermelho de vergonha.
Afinal, Sir Kay virou seu cavalo com um puxão tão repentino que Arthur quase se chocou com ele. – “Por que, irmão” – ele reclamou, ainda surpreso – “o que te atormenta? Minha cabeça estava nas nuvens, é verdade, mas tu quase a atiras contra a terra com tua pressa.”
O aspecto de Sir Kay era tal qual a lua da colheita, mas não possuía nenhuma alegria – “Eu esqueci de minha espada, uma atitude tola.” – murmurou ele, para em seguida bradar – “Agora recai sobre mim o infortúnio de percorrer como o vento toda a distância da estrada para buscá-la.”
– “Não” – disse o garoto rapidamente – “isso não se faz necessário. Apressa-te para alcançar nosso pai. Eu retornarei à hospedaria rapidamente, e apanharei tua espada.” – E ao dizê-lo virou-se, contente por ter uma desculpa para impor ao cavalo um ritmo mais próximo ao de seu sangue, que corria célere nas veias. A juventude lhe dominava o coração, que batia ainda mais forte, e vibrava em seus olhos. E com cascos ruidosos ele corria pela estrada, sendo o único a rumar para a cidade. E desatento a qualquer olhar, grave ou amistoso, fez seu caminho até seu alojamento.
Tendo alcançado a casa, ele parou seu cavalo, e bateu na porta. As batidas foram elegantes e sonoras, mas elas nunca traziam uma resposta. O jovem Arthur passou a agitar seus punhos, e uma grande quantidade de golpes fora desferida. Parou para ouvir. Na rua havia um silêncio similar ao de uma tumba.
O garoto bateu com a mão ao lado para que o cavalo andasse. – “O torneio, o torneio! Todos foram para lá, todos eles!”
E deveras, foi o que aconteceu.
Enquanto isso, Sir Ector e Sir Kay seguiam vagarosamente, e a preocupação de Sir Kay só aumentava, ainda mais com a demora do jovem Arthur. Vez por outra, ele lançava um olhar ansioso para trás, soltando uma nova queixa aos ouvidos de seu pai toda vez que nada via. Então, ao longe percebeu uma nuvem de poeira, que aumentava ao se aproximar cada vez mais, até que Arthur surgiu cavalgando do meio dela.
– “Vê irmão, uma espada para tua mão!” – gritou ele – “Não digas que falhei contigo, mesmo estando a espada que possuis fora de alcance, atrás de portas trancadas!”
Sir Kay tomou a espada, muito satisfeito. Examinou-a atentamente, e à medida que o fazia seus olhos se arregalavam, e sua face empalidecia. Ele tremeu e, então, cavalgou adiante. Mas, Arthur nada percebera, e deixou-se ficar para trás novamente, tomado por seus pensamentos.
Sir Kay apressou-se para alcançar seu pai, cheio de novidades.
– “Sir” – bradou num tom espantado – “certamente eu, e nenhum outro, sou o escolhido para ser o Rei da Inglaterra, posto que em minha mão, eu empunho a espada da pedra!”
Diante dessa afirmação Sir Ector virou-se, e, tendo tomado em mãos a espada que seu filho carregava, ele viu que era de fato a mesma que estava diante da igreja.
– “Dize-me, foste tu quem retirou a espada da pedra?” – perguntou ele.
Sir Kay baixou o rosto, mas respondeu honestamente. – “Não, eu não a retirei. Meu irmão Arthur, que retornou para buscar a espada que eu havia esquecido, foi quem a trouxe a mim.”
Então, disse Sir Ector a Arthur – “Conta-me, foste tu que retiraste esta espada da pedra?” – E dessa forma o garoto foi despertado de seus doces sonhos, e confessou como, tendo encontrado todas as portas trancadas, impedindo-o de pegar a espada de seu irmão, ele foi com toda pressa ao adro da igreja e puxou a espada que repousava na pedra.
– “Não havia ninguém para impedir tal ato?” – perguntou Sir Ector.
– “Não” – disse o jovem – “Eles haviam ido todos ao torneio.” – E isto era verdade, pois todos os Cavaleiros queriam testar suas habilidades.
E assim, o velho Cavaleiro ficou pensativo e, quando chegou a uma conclusão de como agir, eles viraram os cavalos, todos os três, e cavalgaram de volta a igreja, que não ficava muito longe dali. Lá chegando, Arthur recolocou a espada em seu lugar.
– “Meu filho, tire a espada da pedra.” – disse Sir Ector a Sir Kay.
E o jovem experimentou abaixar-se, para melhor aproveitar sua força. Ele tentou uma vez, duas vezes, seus músculos explodiam e sua face fervia, mas ele não pode remover a espada.
– “Dá-me espaço” – ordenou o pai, e, colocando suas mãos sobre a guarda da espada, ele também tentou tirá-la a força da pedra, mas não podia movê-la nem a distância de um fio de cabelo de seu lugar.
Mas, quando Arthur pousou sua mão sobre a arma, ela deslizou da pedra como um raio de sol através da parede. E quando ele a recolocou, ela cravou na rocha tão rápido quanto antes.
Então, disse Sir Ector ao garoto – “Pelo desejo do Rei Uther, tu foste confiado a mim, quando ainda era um bebê, e de teu parentesco com o rei nada foi-me revelado. Agora, começo a pensar que o destino a ti reservado é maior que aquele que havia eu imaginado. Vamos ao encontro do Arcebispo, contar a ele sobre estes acontecimentos.” – E, imediatamente, foram até o Arcebispo, que fora assolado por um grande espanto ao ouvir a história deles. Mas ele advertiu que nada deveria ser dito sobre o assunto, até que o Dia de Reis chegasse, quando deveria ser dado a todo homem a chance de testar seus dons.
E, finalmente, quando completaram doze dias desde o sinal divino lhes fora dado, todo mundo estava ansioso, já que eram poucos os que não desejavam ver o julgamento da espada. Como faixas espiraladas estavam as ruas da cidade, alegres com as cores das vestimentas daqueles que se dirigiam ao adro da igreja. Barões e alegres cavalheiros, jovens e velhos, ricos e pobres, Lordes e plebeus, encontravam-se todos nas esquinas e se acotovelavam para abrir passagem. Ao adro se dirigiam as esperanças de todos, e lá as mais brilhantes expectativas eram destruídas. Para aquele evento eles foram alegremente, ainda que com um eco desafinado em sua melodia; vários indivíduos admiráveis testaram sua habilidade com um coração animado, tendo se esforçado ao ponto de sentir como se estivesse partindo em dois, para em seguida ir embora com alquebrado semblante, sem ter movido a espada nem a distância de um fio de cabelo. Sempre surgia um grupo de campeões, porém, se por um lado eles se enalteciam, de outro eram humilhados, pois um forte pretendente depois do outro, agarrava a espada com esperança e a deixava em lamento.
– “É como se uma forte corrente atasse a espada à pedra” – disse um desapontado cavalheiro.
– “Parece que está afixada com cravos” – disse outro, passando um lenço branco por sua fronte.
– “Eis que se aproxima um admirável candidato” – disse um espectador de baixa estirpe, ao cutucar seu vizinho. – “Eis um magnífico Cavaleiro, certamente se alguém pode mover a espada, deve ser alguém como ele.”
– “É Sir Kay, filho de Sir Ector; deve ele ter prazer em sua tarefa!” – falou o outro, lançando-lhe um olhar de desdém – “Ele começa bem, ao pretender possuir a espada.”
Era bem dito que Sir Kay intencionava ser o dono da espada dourada. Vários destemidos Cavaleiros tentaram arduamente, mas ele esforçara-se mais que todos. A noite se aproximava, e eram poucos os remanescentes para testar sua capacidade. Por toda parte podiam ser vistas caras com expressão de raiva e irritação, pois é como a decepção afeta os homens, as faces daqueles que agarraram a arma, apenas para soltá-la e abandoná-la em seguida. A fronte de Sir Kay franzia-se violentamente, não havia aquela espada antes repousado em sua mão num outro dia? Se ele não a conquistasse, seria porque ela não devia ser conquistada. Se não pudesse arrancá-la da pedra, seria porque a tarefa estava além de qualquer homem. Seu rosto tornou-se lívido, seus dentes cerrados enquanto segurava e puxava, curvando seu corpo sobre a lâmina e levantando-o acima dela, ajoelhou, repetiu, girou. Todos se aproximaram para assisti-lo. De todos os altivos cavaleiros, ele proporcionara o mais longo e mais bravo cerco à espada na pedra.
– “O que se passa, apanhou ele a espada?” – perguntou um rapaz de róseas bochechas, por fim a seus velhos pais, tentando elevar-se nas pontas dos pés, chutando, vez por outra, os calcanhares dos outros à sua volta.
– “Não, ele afastou-se em amarga confusão. Pálida era sua face, e frios seus olhos. Mas, a espada continua na pedra.”
– “Ela gosta de ficar lá!” – disse o garoto. – “Quem vem agora?”
– “O jovem Arthur, o filho adotivo de Sir Ector. Dizem que ele é uma das crianças trocadas por Merlin, impingido a Sir Ector quando bebê. Tu deverias afastar teus olhos, pois ele não é mais do que um menino, ainda mais carente de altura que tu. Ele não pode retirar a espada.”
– “Eu o observaria de bom grado” – respondeu o menino – “Eu tenho medo de Merlin, seus olhos são como a água que está por trás dos moinhos. Mostra-me essa criança de Merlin” – Ele elevou-se, e esticou-se novamente, estendendo seu jovem e fino pescoço. – “Tem ele uma boa aparência, amigo? Não consigo ver nada dele.” – Repentinamente – “Mas que algazarra! Diga senhor, qual é o significado disso?”
Uma miríade de vozes respondeu à questão. – “Ele operou o milagre, a espada foi retirada! O garoto a empunha! Vós não estais vendo? Ela lançou-se à sua mão como se estivesse apenas esperando por seu toque!”
– “Levantai-me!” – disse o Mestre Bochechas Rosadas, seus olhos brilhavam – “Eu quero vê-lo.” – Alguém o alçou, e ele pode ver de relance a figura de um belo jovem, de cabelos brilhantes e de olhos que pareciam arder com a centelha de sua alma. Ele viu, na mão da audaz figura, uma espada que reluzia como se estivesse envolta por fogo. Sobre ela estavam escritas palavras que cintilavam com o brilho das estrelas.
O menino desceu a seus calcanhares e cobriu o rosto.
– “Por que agora?” – questionou seu benfeitor.
– “Eu pude ver o sol.” – murmurou o garoto, piscando e derramando água de seus olhos.
Ainda diante do crescente ruído das línguas, vozes furiosas uniram-se à discussão.
Mestre Bochechas Rosadas retornou à realidade.
– “Os Nobres estão a queixar-se.” – contou-lhe o homem ao lado – “Eles dizem que ele não passa de um menino, e de fato suas palavras são verdadeiras. Eles dizem que o reino não pode ser governado com justiça por rapazinho sem barbas. Eles reclamam que ninguém sabe donde ele veio. Possivelmente, quem sabe, ele deva ser algum pirralho indigente. Veja, ele recolocou a espada, e ela cravou-se tão rápido quanto saiu. O Arcebispo recuou frente os Nobres. No dia da Candelária os homens deverão novamente esforçar-se para retirar a espada.”
E estas eram palavras verdadeiras, o Arcebispo havia cedido. Na Candelária haveria uma nova tentativa. A multidão tagarelava sobre o fato, e discutindo começou a debandar.
E quando chegou o dia da Candelária, o jovem Arthur novamente retirou a espada, e ninguém mais pode movê-la de seu lugar. E, assim, pois novamente os Nobres contestaram, lançando olhares que vertiam ira ao jovem, e exigiram uma nova avaliação para a Páscoa.
E na Páscoa os mesmos atos repetiram-se, e por consequência o assunto prorrogou-se até o dia de Pentecostes.
E em Pentecostes a espada tornou a mover-se para abençoar o rapaz, e não se rendera a nenhum outro.
Então, levantara-se a plebe, gritando em uníssono – “Arthur será nosso Rei! Não tem a espada o revelado a nós, por um sinal de Deus? Nós não necessitamos de outro que não seja ele. Chega de adiar o fato. E nossa oração será para que nos perdoe por atrasar o que tem de ser!” – E assim disseram, dobrando seus joelhos.
Em seguida, muitos dos galantes cavalheiros curvaram-se também, e bradaram – “Arthur será nosso Rei!” – E, tão grande foi o clamor e o ruído que nenhum outro protesto pode ser ouvido. E todo aquele que pretendia tocar uma melodia diferente, teve de engolir seu desagrado, e como diante de uma graça alcançada eles deviam se portar, e dobraram os joelhos junto de seus companheiros.
E, desse modo, foi o jovem Arthur aclamado Rei do reino da Inglaterra, conforme fora revelado por Deus em resposta a fervorosas orações. A espada da pedra ele depositou imediatamente sobre o altar, e ali foi sagrado Cavaleiro.
E antes que aquele ano findasse, Merlin, o mago, foi novamente visto entre os homens, trilhando caminhos pouco conhecidos. Então, tendo encontrado um grupo de Nobres que ainda guardava o descontentamento em seu âmago, falou a eles, lançando-lhes um olhar fulgente.
– “Sabei vós que este jovem de cara sem barbas, a quem saudastes tão tardiamente, é ninguém menos que o filho legitimamente nascido de Uther, o falecido Rei, que agora por justiça reina no lugar de seu pai. Fora Merlin, o mago, quem exigira a criança do Rei como o preço a ser pago por um serviço prestado a ele, em relação a seu casamento, mas secretamente zelava pela ventura do próprio bebê. Pois a criança estava indefesa e o Rei próximo da morte e incapaz de protegê-lo, e era de meu conhecimento a natureza de vossos corações. Vós sois homens rancorosos e causaríeis dano ao menino. Por conseguinte, eu, Merlin, exigi este pagamento do Rei Uther, chegando a um acordo de que Sir Ector, que é um Cavaleiro justo, deveria educar a criança. E agora, respondei-me, rogastes vós aos Céus por um Rei mais verdadeiro do que este Rei é?”
E todos eles ficaram em silêncio, baixando as cabeças.

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Mais uma lenda clássica que traduzi sem compromisso a partir deste texto aqui. No original a espada está presa à pedra trespassando uma bigorna, mas como não gosto dessa imagem tomei a liberdade de excluir a bigorna, assim como mudei uma expressão aqui e outra ali que não ficavam bem.
Excalibur realmente não é citada pois ela e a espada da pedra não são necessariamente a mesma arma. Segundo antigos poemas Arthur teria quebrado sua primeira espada em uma luta, e recebera Excalibur, cujo nome celta seria Caledfwlch, das mãos da Dama do Lago. No filme Excalibur de 1981 (recomendo), baseado nos escritos de Thomas Malory, as duas histórias são muito bem costuradas para construir a lenda sobre uma única lâmina.
A forma como este conto se apresenta aqui já demonstra a forte influência dos dogmas cristãos já consolidados, ao passo que o Arthur histórico, se de fato houve algum Arthur, teria existido por volta do século V d.C., quando o cristianismo ainda engatinhava. Mas, algo interessante de se observar neste texto, mesmo sendo catolicamente correto, é que Merlin, o mago, é quem sutilmente engendra os acontecimentos. O elemento pagão, mesmo aqui, está presente. Em romances recentes como as Crônicas de Arthur, de Bernard Cornwell (magnífico, não deixe de ler), e As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley (somente os livros, o filme é péssimo), é possível vislumbrar melhor, e com diferentes abordagens, o conflito entre o paganismo e a nova religião.

Agradecimentos a Marco "Kull" Nedopetalski, pelo auxílio com o inglês arcaico.